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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Racionalização


Verificamos em sala de aula que às vezes apanhamo-nos a mudar de ideias sem nenhuma resistência ou emoção, mas, se alguém nos acusa de estarmos errados, ressentimo-nos e firmamo-nos na resistência. Somos incrivelmente descuriosos na formação das nossas crenças, mas por elas nos enchemos de amor quando no-las querem roubar. Torna-se óbvio que não são propriamente as ideias que nos são caras, sim o nosso amor próprio.
Poucos alunos dão-se ao trabalho de estudar a origem das suas queridas convicções; temos, mesmo uma natural repugnância para fazê-lo. Gostamos de continuar a crer no que nos acostumamos a aceitar como verdade, e a revolta sentida quando duvidam das nossas verdades estimula-nos a ainda mais nos apegarmos a elas. O resultado é que a maior parte do chamado raciocínio humano consiste em descobrimos argumentos para continuarmos a crer no que crermos.
Lembra-me ter assistido em moço um debate sobre a imortalidade da alma, e não esqueço de como me ofendeu a dúvida manifestada por um dos presentes. Olhando para trás vejo agora que naquele tempo eu tinha pouco interesse pelo assunto, e nenhum argumento de valor em prol da crença que me haviam inoculado. Mas nem a minha indiferença pelo assunto, nem o fato de nunca lhe haver dado atenção foram bastantes para livrar-me da revolta que senti ao ver minhas ideias postas em dúvida.
Este espontâneo e leal apoio aos nossos preconceitos, este processo de descobrir “boas” razões para justificá-los recebe dos cientistas modernos o nome de “racionalização”, palavra nova para coisa muito velha.
Com freqüência em nossos devaneios nos mergulhamos em autojustificação, por não podermos admitir a ideia de estarmos errados, apesar da abundância de nossas fraquezas e erros.

ROBINSON, James H. A formação da mentalidade, p.21-4 (texto adaptado).Tirado do livro de Gilberto Cotrim,Funções da Filosofia;Ser,Saber e Fazer. Editora Saraiva 14º Edição,SP.(Readaptação)

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